A Pedagogia Waldorf e a Autoeducação
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A Pedagogia Waldorf e a Autoeducação

*por Maira Ferraz

Há mais de 8 anos, quando comecei a estudar a Pedagogia Waldorf, pouco se falava sobre ela em textos de revistas ou blogs, ou até mesmo nos cursos de licenciatura e pedagogia. Apesar disso, já havia no Brasil algumas escolas e iniciativas pautadas na Antroposofia, como por exemplo a Monte Azul em São Paulo. De lá para cá, o número de escolas Waldorf no Brasil e no mundo tem crescido bastante. Por aqui, somos quase 300 escolas e jardins de infância e mundialmente esse número ultrapassa os 2,5 mil, distribuídos em cerca de setenta países. 

Mesmo com o expressivo crescimento, esse tipo de ensino ainda gera inúmeras dúvidas e inquietações. Ao meu ver isso ocorre, principalmente, por estar baseado em uma ciência espiritual, a Antroposofia. Isso faz com que a Pedagogia Waldorf seja bem mais do que um currículo, mas oferece uma visão de mundo que talvez não corresponda com as coisas que reproduzimos, tantas vezes automaticamente, em nossas vidas modernas. 

Essa ficha me caiu logo nos primeiros encontros do Seminário Waldorf. Isso aconteceu quando eu, recém formada em Geografia, porém com experiência como professora há muito tempo, fui buscar outras maneiras de ensinar. A verdade é que aquele sistema conhecido pela maioria de nós me gerava certa angústia. Entretanto, no curso não havia uma receita, tampouco falávamos de didática (tema esse tão querido nos cursos de formação de professores). 

Ao contrário de uma lógica já conhecida, partimos para um estudo voltado à autoeducação. A proposta era “olhar para si e para o mundo” pois, para olharmos para nossas crianças e adolescentes, precisamos primeiramente nos conhecer e entender o mundo que nos cerca, além de nosso tempo e lugar. 

Na jornada como professor Waldorf, compreender nossa biografia é essencial. Ao observar nossa própria história, entendemos melhor o outro. Contudo, não é um olhar somente para um corpo físico, mas também deve incluir outros âmbitos, como o etérico, o astral e o eu. Todos nós nascemos com esses três corpos (físico, etérico e astral). Vamos explicar isso melhor no futuro aqui no blog. 

De forma resumida, ter um ambiente que respeite cada fase da vida é essencial. E aqui é importante ressaltar que cada criança tem o seu momento e seus potenciais, por isso temos que deixá-las fluir harmoniosa e organicamente. 

O fato de olhar para o ser humano “considerando o seu desenvolvimento como um todo”, me fascinou. Na Pedagogia Waldorf esse conteúdo tem estreita ligação com o processo de desenvolvimento dos corpos que eu falei anteriormente. Um bom exemplo disso é uma criança em seus primeiros 7 anos de vida. Nesse período, ela está desenvolvendo seu corpo físico. Logo, é importante que ela pule, brinque, caia no chão, suba em árvores e se envolva com todas essas brincadeiras. Essas folias de criança permitem que ela vivencie o seu corpo no mundo. 

Quando uma criança sobe em uma árvore, ela tem que decidir como vai descer dali, em que galho pisar, etc. Ela está se defrontando com escolhas e essas têm suas consequências. Tal vivência será levada para o resto de sua vida e quando adulta poderá olhar para seus problemas e pensar em qual galho se agarrar, entendendo os resultados de suas decisões. No entanto, todo esse processo fica conturbado se quando seu corpo, ainda precisando pular e cair, se depara com letras e números, ou seja, para um pensar intelectual. 

O uso mais preciso da mente deveria ser inserido na vida das crianças por volta dos 7 anos, após muitas lamas, quedas, pulos e tudo mais. Uma imaginação já adulta não permite tais ações com a vivacidade que as crianças executam tão lindamente. 

Foi pensando em todas essas questões que a Pedagogia foi sendo formada. O assunto da Trimembração Social é essencial para entendermos o que é e como funciona uma Escola Waldorf. Mas isso será assunto do nosso próximo texto!


Agradecemos a Maira, responsável por toda a área de Educação do Hai e grande amiga por todo o trabalho que ela desenvolve e pelo texto. 

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