Cuidados com a saúde e o poder das plantas medicinais
Autores: Núcleo Divulgação Científica - Ambiafro
A palavra saúde pode ser no momento atual a felicitação, o sentimento, mais recorrente de ouvir e falar. Em conversas com pessoas próximas, queridas, até mesmo pessoas de fora do convívio social, ao menos desejar saúde sem nem conhecer o tal indivíduo. O nosso corpo material, humano, é feito uma máquina, que funciona de acordo com os comandos enviados por uma pequena molécula de oxigênio que chega aos pulmões a partir da respiração, uma vez que o corpo necessita estar saudável para responder a todas essas informações, que ocorrem de maneira tão rápida. E com isso, o desejo de saúde se faz fundamental.
Essa relação de cuidado e atenção com a saúde sempre foi uma preocupação expressa pelos antigos povos que habitavam o planeta Terra, através do uso de recursos que o meio ambiente ofertava. A utilização de espécies vegetais no tratamento de enfermidades é um dos costumes mais antigos da civilização humana. Ela remete às tribos primitivas, onde as mulheres eram responsáveis por extrair os princípios ativos das plantas para a cura de doenças. O desenvolvimento da medicina moderna ocasionou o distanciamento das relações entre a medicina e a natureza, juntamente dos benefícios que o meio ambiente pode proporcionar para com a saúde e o tratamento através de uma medicina alternativa, mas ao mesmo tempo esta cultura permanece viva em territórios de povos e comunidades tradicionais que se relacionam de maneira direta com a natureza e utilizam destes recursos como uma importante ferramenta de cuidados com enfermidades.
Utilizar a terra, as belezas e os bons sentimentos que a natureza oferece, como um caminho para os tratamentos de saúde, é uma magia natural resgatada através do acesso aos benefícios que as ervas, plantas medicinais, podem proporcionar ao bem-estar. As propriedades terapêuticas e uso consciente que essas plantas oferecem são diversas, e o conhecimento a respeito disso sempre foi passado de geração em geração. Ao mesmo tempo em que as comunidades e povos tradicionais mantêm vivo esse conhecimento, sendo que o mesmo não se pode falar quando nos aproximamos dos grandes centros urbanos e o “esquecimento” desse saber passa a ser protagonista, assim a importância de exaltar esse bonito conhecimento em meio ao desenvolvimento da indústria farmacêutica e todo uma medicina que favorece esse apagamento da memória. O trabalho e ação “Plantas que curam” de autoria da psicóloga Castiel Vitorino e a benzedeira Yasmim Ferreira na região do Morro da Fonte Grande, na cidade de Vitória, Espírito Santo – Brasil (2018), dão voz para a cura dos processos de adoecimento e de produção de saúde para corpos negros, no tempo, corpo e natureza com o auxílio das plantas medicinais para o tratamento de auto-cura e resgate de potencial das ervas.
Falar sobre as plantas e o poder que elas possuem é exaltar o ciclo da natureza e a maneira do qual podemos nos relacionar com ela, em benefício de uma sociedade mais saudável. As plantas medicinais possuem um elevado potencial de cura e ainda tratamento para diferentes enfermidades e é um importante caminho para identificar e avaliar estratégias de promoção da saúde e qualidade de vida para a população negra, indígena e quilombola em espaços promotores de saúde, levando em consideração as práticas culturais, tradicionais e religiosas afro-brasileiras. O Sistema Único de Saúde (SUS), possui cartilhas que variam de acordo com a região, com a plantas e medicamentos com bases naturais que são benéficas para o tratamento de alguma doença. As plantas medicinais têm um papel muito importante na saúde. A promoção da saúde por meio da fitoterapia envolve o resgate de valores culturais, ao mesmo tempo em que estimula ações intersetoriais, facilitando o vínculo equipe-comunidade, a aproximação entre profissionais e usuários, o desenvolvimento local e a participação comunitária.
Outro exemplo prático sobre a importância das plantas medicinais aos saberes dos povos e comunidades tradicionais está no livro “Plantas medicinais: fortalecimento, território e memória Guarani-Kaiowá”, produção lançada no ano de 2020 em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um grupo de jovens indígenas da comunidade, exalta a necessidade de identificar e descrever as práticas tradicionais de cura e as plantas medicinais mais prevalentes entre os Guarani e Kaiowá. O livro ainda oferece ao leitor a intenção de proporcionar uma aproximação do conhecimento tradicional a partir dos relatos de experiências ancestrais com o uso de plantas medicinais.
O território brasileiro é um lugar de riquíssima biodiversidade de animais e plantas, que juntamente com os povos de comunidades tradicionais que habitam e habitaram esta terra, nasce esse saber sensível à natureza, de relação e cuidado com o corpo. Devemos estar abertos a receber novas alternativas de tratamentos e acesso a saúde, em um momento em que as informações andam evoluindo de maneira rápida e tendenciosas ao negacionismo dos verdadeiros saberes. Manusear as plantas e ervas em prol da saúde é acessar o resgate da memória aos saberes ancestrais que estão adormecidos em nosso coração.
Referências
- Ação “Plantas que curam” - Castiel Vitorino e Yasmin Ferreira. Disponível em <https://castielvitorinobrasileiro.com/acao_plantasFG>
- Cartilha Plantas Medicinais. Sistema Único de Saúde (SUS). Prefeitura Municipal de Campinas.2018. Disponível em <http://www.saude.campinas.sp.gov.br/saude/assist_farmaceutica/Cartilha_Plantas_Medicinais_Campinas.pdf>
- Documentário Sankofa: A África Que Te Habita. 2020. NetFlix.
- Paulo Basta, Islândia Sousa, Ananda Bevacqua e Aparecida Benites (orgs.). Plantas Medicinais: fortalecimento, território e memórias Guarani e Kaiowá. Disponível em <http://observapics.org/wp-content/uploads/2020/06/LivroPohaNanaDigital.pdf>
- Santo, D.L. et al. SABERES TRADICIONAIS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS NA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA. Ciências em Foco, v. 12, n. 1, p. 86-95, 2019.