Educação em valores: a aposta para um mundo melhor
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Educação em valores: a aposta para um mundo melhor

Educação em valores: a aposta para um mundo melhor

A primeira pergunta que vem a mente quando se fala em educação em valores (também conhecida como educação moral) é se a moral se ensina. Vale relembrar que a moral é compreendida como os hábitos e costumes de uma comunidade, portanto sabemos que é possível aprendê-los. Aprendemos a importância de escovar os dentes, de arrumar nossa cama, de cumprimentar as pessoas na rua, de ceder o próprio assento no transporte público para um idoso, a dividir o brinquedo com os amigos e etc. Portanto, também podemos aprender a ser generosos, justos, responsáveis, respeitosos, empáticos e prudentes.

A nova pergunta que ecoa agora é: é papel da escola ensinar sobre valores morais? Acreditamos que a escola e a família são as principais bases formadoras de um indivíduo. Ética e educação são inseparáveis. Educar envolve necessariamente a formação moral dos educandos. Dessa forma, toda educação é, de alguma maneira, um ato moral, uma vez que o ensino é sempre de alguém para alguém, e isso supõe o compartilhamento de conhecimentos, competências, valores e hábitos, que compõem os conteúdos da educação, também chamados de cultura moral (PUIG, 2012). 

Apesar de reconhecer a presença dos valores morais dentro das práticas educativas, o ensino da moralidade geralmente fica marginalizado dentro dos currículos, haja vista a preocupação excessiva com o aprendizado dos conhecimentos de caráter científico. Esse é um erro da educação, acreditar que a escola deve ensinar tudo ou quase tudo dentro dos anos que o indivíduo passa em seu interior, desconsiderando que o aprendizado deve ser algo contínuo ao longo de toda a vida. O excesso de conteúdo sobrecarrega o currículo, não sobrando espaço para a formação moral. 

A educação em valores é definida como a formação de uma personalidade consciente e responsável, capaz de equilibrar os planos pessoais e coletivos, a fim de assegurar uma vida feliz e justa para todos. É o olhar para além da própria individualidade, é entender que os seres humanos são interdependentes e, portanto, necessitamos do outro para viver e sobreviver. Como já dizia Aristóteles, somos seres sociais e só encontraremos a felicidade na convivência com o outro. 

A construção da personalidade moral por meio da educação em valores acontece em quatro etapas (PUIG,1996):

  1. Duplo processo de adaptação à sociedade e a si mesmo: em um primeiro momento, a criança passa por um processo de socialização, a fim de apreender as regras sociais básicas, bem como por um processo de reconhecimento dos seus desejos e pontos de vista;
  2. Transmissão de elementos culturais e de valores que não estão completamente enraizados e/ou explícitos na sociedade, mas que são desejáveis, como justiça, liberdade, igualdade e solidariedade;
  3. Aquisições procedimentais: formação da consciência moral - capacidades de juízo, compreensão e autorregulação -, que irá permitir que o indivíduo enfrente os conflitos morais;
  4. Construção da autobiografia: favorece a cristalização dos valores morais.

Por isso a importância da escola em tornar explícitas as práticas educativas que refletem a educação em valores, planejando atividades que englobem essas etapas. 

Mas, afinal, por que se preocupar com a educação em valores? Puig e Martínez (1989) centraram-se em responder essa questão e listaram quatro grandes motivos:

  1.  Porque a educação em valores faz parte da educação integral. Já vimos que a moral permeia a educação, logo, melhor tomar as rédeas e planejar as práticas morais de maneira consciente que deixá-las ao acaso;
  2.   Porque as sociedades estão cada vez mais plurais, desaparecendo as seguranças absolutas e determinando que é necessário aprender a conviver com diversos modelos legítimos de vida. Isso exige um esforço, individual e coletivo, de construção de critérios morais razoáveis e solidários;
  3. Porque os maiores problemas da atualidade (guerras, degradação ecológica, pobreza) não têm soluções tecnocientíficas. O que precisamos aprender é a regular as relações entre os seres humanos e entre os seres humanos e a natureza;
  4. Porque trabalhar com educação em valores reforça o valor da democracia, promove um modo justo de resolver conflitos, com base no diálogo. 

Por fim, a construção da personalidade moral deve apoiar-se em um guia de valores, não como algo fixo que irá decidir qual caminho seguir, mas como um horizonte valorativo que ajudará no direcionamento moral. O guia de valores deve respeitar os Direitos Humanos, a fim de encontrar um ponto em comum nas mais diversas comunidades coexistentes em uma sociedade plural e democrática, ou seja, aponta a necessidade de uma ética mínima, de valores, atitudes e condutas que são essenciais para a dignidade humana em qualquer cultura (CORTINA, 2000). 

Questões essas urgentes para a construção de um mundo melhor. E nossa aposta é, e sempre será, na educação.


Texto de autoria da voluntária: Lumaira Marques. 



Referências:

CORTINA, A. Ética mínima: introducción a la filosofía práctica. Madrid: Editorial Tecnos, 2000. 344p. 

PUIG, J. La construcción de la personalidad moral. Barcelona: Paidós, 1996. 269p. 

PUIG, J. (Coord.). Cultura moral y educación. Barcelona: Graó, 2012. 246p. 

PUIG, J. M.; MARTINEZ, M. Educación moral y democracia. Barcelona: Laertes, 1989. 237p. 

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