História do Quênia
Texto escrito por Karoline Tubben
Tendo em vista que os trabalhos do Hai ocorrem no Quênia, é fundamental que saibamos um pouco mais sobre esse país e sua história. Para fins didáticos – e de espaço – esse post é dividido em seções, embora, como autora, não concorde com o uso do período colonial como um marco definidor da história africana.
Período pré-colonial
Antes da invasão europeia, as comunidades nativas quenianas se organizavam de forma rural e produziam visando sua subsistência. Similar a outras sociedades africanas, os grupos do Quênia conduziam um estilo de vida comunitário, ou seja, o trabalho se dava de forma cooperativa e circunscrito à família. Como consequência disso, o lucro não era considerável, restringindo o desenvolvimento comercial. Na ausência do individualismo liberal ocidental, as comunidades não se dividiam em classes – ademais, as segregações étnicas não eram tão sólidas quanto em outros locais – nem se divergiam com desigualdades sociais (O’NEDGE, 2009).
Colonização britânica
A presença do Reino Unido no território hoje conhecido como Quênia teve início no fim do século XIX, mais precisamente em 1888, quando a Companhia Imperial Britânica da África Oriental, foi instalada na região. A veia comercial do colonialismo britânico era sua característica determinante, uma vez que assim começaram as afro-britânicas em meados do século XVI - quando às empresas britânicas era concedido o monopólio do comércio de determinadas regiões por parte da Coroa. A partir do século XVIII, comerciantes individuais passaram a ser autorizados a comercializar com os territórios africanos. Primeiramente, foi cobrada uma taxa a ser paga para a Companhia Africana Real, porém, a partir de 1726, o governo britânico declarou o continente africano aberto a todos os cidadãos (INIKORI, 1992).
Seguindo a regra do domínio colonial, um dos traços marcantes da presença britânica no Quênia foi a apropriação das terras nativas, uma vez que, ao contrário de outros territórios sob o regime inglês, a região não contava com fartas reservas minerais. Por meio da imposição de uma série de impostos abusivos, os povos quenianos foram obrigados a se submeter a trabalhar para os colonos britânicos ou serem punidos com trabalho forçado por não pagarem os impostos. O objetivo – conquistado – dessa manipulação era de assegurar mão-de-obra barata para sustentar o desenvolvimento econômico britânico. Finalmente, em 1913, foi consolidado o monopólio do uso da terra por parte dos colonos, quando o governo do Reino Unido aprovou uma legislação concedendo à população britânica no Quênia arrendamentos de 999 anos (BHM, 2020).
Após a Primeira Grande Guerra, as insatisfações dos colonizados fervilhavam exponencialmente, tendo em vista o fardo exploratório dos impostos. No máximo ¼ dos rendimentos era legalmente autorizado a ser utilizado para serviços voltados exclusivamente para a população negra. Outro ponto era o tratamento indigno dos empregados quenianos por parte de seus empregadores britânicos, que justificavam os abusos argumentando que os negros eram crianças a serem disciplinadas. Como resistência à opressão inglesa, erodiu a Revolta Mau-Mau no período entre 1952 e 1960. O grupo militante foi um retrato do emergente nacionalismo queniano, visto pelos europeus como um tipo de "tribalismo perverso guiado por uma combinação de impulsos bestiais e influência comunista" (THE COLONIZATION..., 2020).
A princípio, a resistência armada teve como alvo cidadãos quenianos que colaboravam com o regime colonial, evoluindo rapidamente para séries de ataques direcionados aos colonos. Como resposta, foi declarado um estado de emergência no qual vigorou uma política de despejo de grupos étnicos associados aos Mau-Mau. Nessas terras, portanto, foram instaurados campos de concentração para processar suspeitos, onde variados métodos de tortura que hoje são considerados crimes de guerra foram utilizados para recolher informações (THE MAU-MAU..., 2018). Hussein Onyango Obama, avô do ex-presidente estadunidense, Barack Obama, foi uma das vítimas da reação britânica. Embora fontes divirjam consideravelmente no que tange ao número de mortes causadas pela resposta britânica, aproximadamente 20 mil homens, mulheres e crianças foram assassinados nesse período (THE COLONIZATION..., 2020).
Independência
Apesar das organizações políticas africanas terem sido banidas durante o período da Revolta Mau-Mau, a partir de 1960 esses partidos criados décadas antes se fortaleceram e floresceram. Em resposta às movimentações nacionalistas no continente – o ano de 1960 é considerado pela ONU o Ano da África, devido à onda de descolonizações conquistadas –, o antigo primeiro-ministro britânico, Harold Macmillan, afirmou que as colônias cujas despesas fossem maiores que os lucros deveriam ser dispensadas (MINISTRY OF EAST AFRICAN COMMUNITY AND REGIONAL DEVELOPMENT, 2019). Assim, sendo considerado descartável na visão inglesa, o Quênia conquistou sua independência de forma transacional. Durante 1962 e 1963, a Kenya African National Union e a Kenya African Democratic Union se articularam de modo a formar um governo de coalizão no qual Jomo Kenyatta – ativista envolvido e preso durante a Revolta Mau-Mau – foi eleito primeiro-ministro. Em 12 de dezembro de 1963, Londres anunciou que o Quênia passava a ser um Estado independente (WORLD..., 2021).
REFERÊNCIAS
MINISTRY OF EAST AFRICAN COMMUNITY AND REGIONAL DEVELOPMENT. History of Kenya. 2020. Disponível em: https://meac.go.ke/history-of-kenya/ Acesso em: 5 dez. 2021.
O NEDGE, Peter. Apresentação. Colonialism and its Legacies in Kenya. In: Fullbright – Hays Group. 2009, Kesses, Quenia. Disponível em: https://africanphilanthropy.issuelab.org/resources/19699/19699.pdf Acesso em: 5 dez. 2021.
THE COLONIZATION of Kenya. Black History Month. 2020. Disponível em: https://www.blackhistorymonth.org.uk/article/section/african-history/the-colonisation-of-kenya/ Acesso em: 5 dez. 2021.
THE MAU-MAU Uprising. South African History Online. 2018. Disponível em: https://www.sahistory.org.za/article/mau-mau-uprising Acesso em: 5 dez. 2021.
WORLD War Two to Independence. BRITANNICA. 2021. Disponível em: https://www.britannica.com/place/Kenya/World-War-II-to-independence Acesso em: 5 dez. 2021.
Bem clara e sucinta. Parabéns por elucidar a história tão bem!