Os impactos dos brinquedos de plástico na infância
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Os impactos dos brinquedos de plástico na infância

*texto escrito por Gabrielly Sierra.

Os brinquedos de plástico são cada vez mais comuns na infância. Os catálogos das indústrias de brinquedo contam com produtos de todas as cores, tamanhos e tipos de estímulos eletrônicos com a promessa de diversão. Eles correspondem a cerca de 90% dos brinquedos que são produzidos mundialmente (Infância Plastificada, 2020, p. 14), o que equivale a uma média de 4,7 milhões de toneladas de brinquedos de plástico produzidos a cada ano. Isso, associado ao atual estilo de vida da humanidade marcado pela produção, consumo e descarte, acentua o impacto que esses brinquedos provocam na infância, desde os riscos de intoxicação ao comportamento consumista precoce.

Para o mercado, as crianças são potenciais consumidores e alvos rentáveis da publicidade. Considerando que estão em fase de desenvolvimento, o ideal do consumo vai além do ato de comprar o que não é necessário e gerar lucro para as grandes empresas. Isto é, o incentivo a este tipo de comportamento irá refletir na construção e no desenvolvimento de hábitos e valores que determinam a forma como as crianças entendem e se relacionam com o mundo. As crianças não nascem consumistas, mas acabam sendo fortemente impactadas e estimuladas a consumir sem refletir sobre isso pois, “(...) gera-se nas crianças um estado de permanente insatisfação, incentivando o desejo do novo e redefinindo o anteriormente consumido como lixo inútil” (Friedmann, 2011, p. 119).

Além disso, nove em cada dez pais assumem que são influenciados pelos filhos na hora de fazer compras (Infância Plastificada, 2020, p. 38). Em consequência, quanto mais esse estilo de vida é estimulado, maior torna-se a quantidade de descarte e lixo produzido. Segundo a World Wide Fund for Nature (WWF), a poluição por plástico nos oceanos pode chegar a 300 milhões de toneladas até 2030, considerando as projeções de crescimento populacional e a atual geração de resíduos plásticos per capita. O relatório “X-Ray da Poluição por Plástico: Repensar o Plástico em Portugal” (2019), alerta que a ausência de informações estatísticas naquele país impede a criação de uma estratégia na redução do consumo de plásticos. Essa crise só tende a aumentar se não se responsabilizarem todos os atores envolvidos na produção, consumo e descarte dos plásticos e seus efeitos na natureza e para as pessoas.

Segundo a pesquisa “Infância Plastificada – O impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente” (2020), os brinquedos de plástico tem baixa probabilidade de serem reciclados, uma vez que, “a mistura de outros plásticos, bem como de outros materiais, caso de pigmentos, brilho, glitter, torna o processo da reciclagem mais complexo e caro ou mesmo inviabiliza a reciclagem” (2020, p. 15). Esses materiais, além de tornarem a reciclagem dificultosa, também são prejudiciais à saúde na infância.

Um estudo feito no Brasil com bonecas de PVC e látex encontrou nestes brinquedos materiais que, ao entrarem em contato com o ser humano, podem provocar distúrbios de comportamento e aprendizagem, doenças que atacam o sistema nervoso e os rins e câncer. É o caso dos materiais cádmio, chumbo, cromo, zinco e alumínio, juntamente com outras substâncias orgânicas adicionadas ao plástico para lhe dar flexibilidade, como ftalatos.

Numa pesquisa europeia feita pelo European Environmental Bureau em que foram analisados 248 brinquedos, 228 foram considerados como de alto risco de intoxicação, o que representa 92% do total. Ainda, 51% deles apresentavam níveis elevados de ftalatos. Na Alemanha, o Ministério do Meio Ambiente encontrou resíduos de plástico no organismo das crianças, associados à ingestão, em um acompanhamento feito entre 2014 e 2017. Foram testadas 2,5 mil amostras de sangue e urina de crianças de 3 a 17 anos.

As embalagens dos brinquedos também se tornam um problema na medida em que, mesmo sendo produzidas para o descarte imediato, não deixam de conter materiais que inviabilizam a reciclagem, utilizados com o intuito de atrair a atenção do pequeno consumidor em meio a um mercado competitivo. Além do que, elas “representam 40% de todo o resíduo plástico descartado, também encontrado nos oceanos, e integram, junto com os canudos e outros produtos, os chamados plásticos de uso único” (Infância Plastificada, 2020, p. 56).

Mesmo que o brinquedo seja feito para durar por bastante tempo, as crianças podem perder o interesse pelo objeto rapidamente. Um estudo feito no Reino Unido concluiu que levam apenas 36 dias para que as crianças deixem o brinquedo de lado e também que um em cada três pais admitiu o descarte de brinquedos que ainda estão em boas condições. Podemos concluir que isto seja mais um comportamento fruto de um consumo inconsciente que afeta tanto as crianças quanto os pais.

Mesmo com algumas iniciativas empresariais que buscam soluções alternativas, “atualmente as atuais peças ‘verdes’ representam de 1 a 2% de toda a produção da empresa e são, do ponto de vista químico, idênticas aos polietilenos (PE) convencionais” (Infância Plastificada, 2020, p. 56). Tudo isso revela que estamos diante de uma problemática que impede o desenvolvimento integral da criança, que merece uma infância livre e saudável. Simultaneamente, é um fator que impacta negativamente o planeta e, por isso, quando se pensa em defender a reciclabilidade do plástico, deve-se também refletir sobre a sua necessidade e relevância em circular e existir. Em um setor como o de brinquedos, que está intrínseco ao ideal do consumo, quão necessário ele se torna? Afinal, é preciso de brinquedo para brincar?


Referências bibliográficas

Friedmann, A. (2011). Paisagens infantis: uma incursão pelas naturezas, linguagens e culturas das crianças (Dissertação de doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Recuperado de https://132914ad-cd03-9ef2-c1bf-9fb1457f44dd.filesusr.com/ugd/f52fdb_5bfcc302de621c040e15c24902e043a5.pdf

Villela, A., Filho, A., Nisti, M., Okada, L., Pasquali, C., Henriques, I., Hartung, P., Amaral, J., Cattaruzzi, L., Bosi, M., Barros, M., Zuin, V., Araripe, E., & Fachina, S. (2020). Infância plastificada: o impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente. Recuperado de https://www.institutoruthsalles.com.br/wp-content/uploads/2020/08/cc_infancia-plastificada.pdf

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