Representatividade das vidas negras - Reflexões sobre cultura, estereótipos e igualdade
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Representatividade das vidas negras - Reflexões sobre cultura, estereótipos e igualdade

 

*Texto escrito por Fernanda Galeoti 

O que vem à mente quando você pensa sobre pessoas negras? É a cor da pele melaninada? Ou quem sabe as tranças com badulaques coloridos e divertidos? Talvez você pense nas incríveis habilidades musicais e atléticas. Mas, talvez as primeiras palavras que vieram à mente foram mais voltadas à retratos de pobreza e miséria. Nenhum desses casos é surpreendente. E esse é o resultado de uma sociedade que estereotipa as vidas negras dessa forma.


A palavra “negro” representa um grupo extremamente diverso de pessoas, abrangendo várias areas geográficas e uma gama de crenças religiosas, etnias e línguas. No entanto, parece haver sempre uma idéia falha da comunidade na sociedade, transformando o que deveria ser um belo mosaico em uma tela uniforme. Essa representação monótona das vidas negras muitas vezes apresenta o grupo sob uma luz um tanto negativa. Isso afeta não apenas a forma como os outros os percebem, mas também afeta a maneira como eles se enxergam.


Os negros são frequentemente submetidos a rótulos sociais e expectativas injustas. Um estudo da Universidade de Yale, por exemplo, revela que muitos professores da pré-escola têm preconceitos implícitos contra alunos negros. Isso resulta em uma experiência escolar defasada para a criança, e pior ainda, não permite que ela usufrua os anos da infância com plenitude nas suas interações com amigos e também o inibe nas suas atividades escolares. 


Os autores do estudo acreditam que a descoberta ajuda a explicar números preocupantes na educação infantil - 3 a 7 anos. Nos EUA, só 19% das crianças matriculadas na pré-escola são negras. Mesmo sendo minoria, elas batem recordes de suspensões: têm 3,6 vezes mais chances de receber uma ou mais suspensões que as crianças brancas. E esses preconceitos persistem ao longo da experiência de vida de uma pessoa negra.


A representação dos negros na sociedade também tem efeitos devastadores na autoestima. Isso ficou mais evidente no popular Teste das Bonecas - vídeo feito pela cineasta e documentarista norte-americana Kiri Davis, em que crianças negras são apresentadas duas bonecas completamente idênticas, exceto pela cor da pele e do cabelo. A maioria das crianças preferia a boneca branca à boneca preta, revelando um racismo internalizado que frequentemente atrapalha na autoaceitação e no processo de construção de identidade de muitas crianças negras. 


Além disso, de acordo com o livro Atendendo às necessidades de saúde mental de jovens de minorias raciais e étnicas - um guia para profissionais, quando os jovens têm uma visão positiva de sua identidade racial e étnica, isso atua como um fator de proteção, aumentando sua auto-estima e protegendo-o contra o racismo e discriminação; portanto, reduzindo possíveis dificuldades psicológicas e melhorando a saúde mental.


A falta de representação negra é um problema que se estende para o mundo acadêmico também, quando a realidade evidencia que o número de professores negros são poucos. Autoras como Djamila Ribeiro, escritora do Pequeno Manual Antirascista, confirma essa clara sub-representação. Estudos do tema comprovam que tais dinâmicas fazem com que os estudantes negros absorvam constantemente mensagens subliminares sobre quem são e o que podem vir a ser, pois não ter ninguém que se pareça com você em uma posição acadêmica pode desencorajar alguém à seguir a carreira. 


Efetuar representações positivas dos negros na sociedade exigirá esforços coletivos. Mas como podemos mudar uma narrativa que parece tão firmemente enraizada? Pesquisas apontam que começar incluindo mais “modelos” de comportamento para os negros na sociedade é um inicio. Eles podem ser professores e jornalistas, não apenas rappers e jogadores de basquete. Também podemos aumentar a representação apoiando negócios, empreendimentos, e políticos negros. Apoiar a mídia e os cineastas que apresentam os negros de uma forma mais honesta e prevalente também é um modo de contribuiçao. 


Em última análise, tal esforço levará à criação de uma sociedade mais justa, na qual todos têm uma chance mais igualitária de ser bem sucedido na vida - sem as percepções negativas de raça trabalhando contra eles.



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