Sobre destino e parceria: Project Três e Hai Africa
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Sobre destino e parceria: Project Três e Hai Africa

Tudo começou com algumas trocas de mensagens via Facebook. Eu lembro de ter encontrado a Mari, fundadora do Hai Africa, visto o trabalho dela e enviado a seguinte mensagem:


“Vamos ser amigas”. 


Para quem não me conhece, meu nome é Carla e eu sou a fundadora da organização sem fins lucrativos Project Três, que visa promover a estabilidade financeira e emocional de mulheres em situação de vulnerabilidade. 


Na época dessa mensagem, eu estava morando na Índia, onde iniciei as atividades do meu projeto e vivi por quase dois anos desenvolvendo esse trabalho. Mari e eu nos tornamos amigas virtuais; ela na sua jornada no Quênia e eu na Índia, e, de tempos em tempos, nos amparávamos uma na outra, em momentos de incerteza e exaustão. 


Em uma das nossas trocas de mensagem, a Mari disse que gostaria de fazer um trabalho com mulheres no Quênia e que tinha pensado em uma parceria entre nossos projetos. 


Assim, surgiu a primeira faísca de conexão entre o Hai e o Project Três. 


Em 2017, eu embarquei em um voo de mais de 48 horas, cheio de imprevistos, esperas e frio na barriga, e passamos juntas quase três meses na comunidade Kabiria em Nairobi, no Quênia, implementando o trabalho com as mulheres de lá. A prioridade eram aquelas cujas crianças estudavam no Hai. Colocamos um anúncio na frente da escola e tivemos mais de 80 interessadas. Nossa capacidade máxima era de 20 mulheres. 


Nessa hora, entra em cena a minha especialidade, que consiste em analisar o perfil das mulheres e tentar encontrar um equilíbrio entre cada uma delas e o grupo que iria se formar. Essa é a chave de uma comunidade bem estruturada e capaz de gerar impacto social. 


Formamos um mix de mulheres em extrema pobreza com outras em uma condição um pouco melhor; mulheres solteiras, viúvas e divorciadas, assim como casadas com o marido presente. Mulheres que já haviam costurado antes, outras que sabiam trançar cabelos e alguns perfis com bons sinais de liderança. Dessa alquimia surgiu nosso grupo, inicialmente de 20 mulheres. 


Trabalhamos no Project Três investindo em aperfeiçoamento de habilidades já existentes e treinamento de novas técnicas e conhecimento. Criamos produtos com mão-de-obra justa e matéria-prima local e integramos as mulheres em todo o processo de estruturação e gestão de um projeto de impacto social. 


Elas aprendem sobre controle de qualidade, precificação, envios e gerenciamento de time, confrontando uma das maiores decepções que me fez deixar de atuar como estilista - minha profissão por seis anos: a falta de transparência e treinamentos ultra fracionados nas áreas de produção desses artigos, causando desconexão e baixa autoestima nos profissionais envolvidos nesta cadeia. 


O impacto desse projeto na comunidade Kabiria é muito inspirador. Mulheres aprenderam a fazer produtos que são comercializados internacionalmente, algumas investiram no desenvolvimento de seus próprios negócios localmente, enquanto outras conseguiram trabalhos estáveis e sustentáveis dentro do Hai Africa, como é o caso da Fanice. 


Ver o trabalho do Hai e o comprometimento que a organização tem com o bem-estar de suas crianças - e como uma extensão delas, suas famílias e comunidades - é sensível, profundo e inspirador. Em tempos de números astronômicos e crescimentos que não respeitam a ordem sustentável de trabalhos de impacto, é reenergizante ver uma organização se firmando nas suas escolhas e confiando nos resultados delas, com tamanha transformação em uma comunidade. 


Seguimos juntas na nossa jornada de empreendedorismo social em união com as mulheres da Kabiria que tanto nos inspiram, produzindo com suas mãos peças que simbolizam os frutos dessas grandes mudanças, possibilitando que pessoas do mundo todo carreguem consigo uma pulseira, uma bolsa, ou um item de decoração que espalha essa mensagem sobre a importância do protagonismo feminino. 



Por Carla Maria de Souza

Fundadora da Project Três

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