Por que empoderamento feminino é um substantivo coletivo?
Muito além de uma frase de camiseta, o empoderamento feminino é uma ferramenta importante para repensar os feminismos. É por isso que ele sempre deve ser coletivo.
“Ninguém se empodera individualmente se o grupo não estiver empoderado” — em entrevista ao Brasil de Fato, Joice Berth, autora do livro “o que é o empoderamento?” coloca luz à perspectiva coletiva do termo empoderamento feminino.
De fato, nos últimos anos, a expressão correu os quatro cantos do país. Inclusive, conquistou um espaço relevante no debate político. Só que, ao mesmo tempo, também se tornou banal e vazia de significado.
No entanto, o que a gente vai perceber é que a aproximação do termo “empoderamento feminino” ao seu conceito original pode ser uma ferramenta fundamental para discutir os feminismos.
Pensando nisso, o objetivo deste artigo é refletir sobre o conceito de empoderamento feminino, especialmente para questionar as estruturas das relações de poder.
O que é empoderamento feminino?
Para começar essa conversa, é importante ter em mente que a palavra “empoderamento” é um neologismo na língua portuguesa.
É uma palavra que (ao que tudo indica) foi criada pelo educador e filósofo Paulo Freire a partir do termo inglês “empowerment” — que significa basicamente a habilidade ou permissão para que alguém realize algo.
De maneira geral, na perspectiva de Paulo Freire — e também do conceito básico do termo — empoderamento compreende a ideia de minimizar os efeitos de opressões, a partir de uma conscientização do social e do coletivo. Jamais de forma exclusivamente individual.
Então, não é empoderamento feminino quando mulheres se sentem, individualmente, mais livres, mas não impulsionadas para ajudar outras mulheres a se libertarem.
Claro que o empoderamento individual por si próprio é importante. Inclusive, esse movimento é necessário para iniciar o processo coletivo. Mas o empoderamento exclusivamente individual não é suficiente.
Sendo assim, dentro dessas premissas, empoderar é, antes de tudo, “pensar em caminhos de reconstrução das bases sociopolíticas, rompendo concomitantemente com o que está posto” — como explicou Joice Berth em seu livro.
Ou seja, para construir capítulos que contam histórias diferentes das que temos visto ao longo dos tempos.
Na mesma linha de pensamento, bell hooks entende que o empoderamento se refere às mudanças sociais numa perspectiva anti-racista, anti-elitista e anti-sexista, através de mudanças das instituições e das consciências individuais.
Nessa concepção, é necessário criar estratégias de empoderamento feminino no cotidiano, nas experiências habituais no sentido de reivindicar o direito das mulheres (especialmente, das mulheres negras) à humanidade.
Por que empoderamento feminino não pode ser visto apenas por uma ótica individual?
É por isso que toda ideia liberal de meritocracia — que se aproxima do empoderamento puramente individual, se afasta do ideal original. E, pior, esvazia o conceito que alavanca a coletividade.
A crítica aqui, para ser bem clara, é sobre o discurso empoderador que alcança apenas alguns tipos específicos de mulheres. E que, no mais, serve de frase feita para vender camisetas em lojas de fast fashion.
Sendo assim, como explica Joice Berth, se são apenas conquistas que se relacionam com benefícios individuais como, por exemplo, promoções e aumentos salariais, não se trata de empoderamento feminino em si.
Afinal de contas, o conceito original de empoderamento pressupõe uma transformação social.
Ou seja, antes de mais nada, é imprescindível que os benefícios transbordem a vida privada de uma pessoa e atinjam a perspectiva coletiva.
Isso significa que, para trabalhar o conceito de empoderamento de forma plena, os benefícios e privilégios individuais devem ser revertidos para os grupos minorizados (que não são minorias — a exemplo das pessoas negras que somam 56% da população no Brasil, mas são minorizadas nas posições de tomada de decisões).
Logo, o empoderamento significa menos transferência de poder e mais comprometimento com a luta pela equidade, assim como explica Djamila Ribeiro.
Nesse contexto, de forma alguma, o empoderamento feminino é como uma única mulher chegou ao poder. Mas como, depois disso, ela promoveu o fortalecimento de outras mulheres para uma sociedade mais justa.
Os 7 princípios de empoderamento das mulheres da ONU
Tanto é que esse assunto chegou nas pautas da Organização das Nações Unidas (ONU) em conjunto com o Pacto Global, para criar os Princípios de Empoderamento das Mulheres.
Esses princípios funcionam como uma orientação para a ONU Mulheres estabelecer e consolidar parcerias com empresas, com o objetivo de aumentar o compromisso e diminuir a discriminação contra as mulheres.
Assim, as empresas são personagens centrais em um roteiro que prevê mudanças em direção a um desenvolvimento mais inclusivo — especialmente, que considera que as mulheres também são beneficiárias do desenvolvimento econômico do país.
Na prática, são 7 princípios que servem para instruir as empresas na implementação de valores mais equânimes:
- Estabelecer lideranças corporativas sensíveis à igualdade de gênero, no mais alto nível;
- Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação;
- Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa;
- Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres;
- Apoiar o empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing;
- Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social;
- Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
Como fomentar o empoderamento feminino?
E aí surge uma questão fundamental: como, afinal, fomentar o empoderamento feminino? Como criar ambientes propícios para o desenvolvimento de mulheres que empoderem a si próprias e a outras mulheres?
E a verdade é que não existe uma única resposta. Cada mulher, no limite de seu espaço de atuação, pode construir formas diferentes de empoderar outras mulheres.
De todo modo, o fato é que é necessário desenvolver ações coletivas que alinhem os espaços de tomada de decisões à consciência social de direitos.
Afinal, como você já sabe, o empoderamento feminino pressupõe uma consciência que ultrapassa iniciativas e privilégios individuais, para promover transformações e superação de realidades de violência.
Então, em primeiro lugar, as ações devem, obrigatoriamente, ser suficientes para extrapolar os limites da vida privada para atingirem visões mais amplas.
Além do mais, as ações devem produzir efeitos que combatam as relações de poder desiguais entre homens e mulheres em todas as esferas e oferecem novas possibilidades de existências.
Ainda, um movimento que tem a finalidade de promover o empoderamento feminino deve incentivar a construção de comunidades e garantir como princípio básico, todos os direitos das mulheres.
Então, por exemplo, em um contexto organizacional, as empresas devem criar ambientes de trabalho respeitosos e que atendam às demandas de todas as mulheres e, principalmente, respeitem todos os direitos.
Como auxiliar o empoderamento feminino com o Hai África?
Outra forma de auxiliar a promoção do empoderamento feminino é contribuindo com as ações do Hai África. O Hai África é uma organização sem fins lucrativos que nasceu, em 2015, após uma viagem de voluntariado à África.
Em 4 de maio de 2015, em uma pequena casa em Kabiria (região nos subúrbios de Nairobi, capital do Quênia), a fundadora Mariana abriu as portas do Hai para fornecer refeições e atividades criativas para 13 crianças da comunidade — número máximo acolhido em seu orçamento inicial.
Atualmente, o Hai é um centro que faz parte da transformação da comunidade Kabiria, promovendo o desenvolvimento de mulheres através de novas capacitações profissionais e das crianças por meio da educação humanizada e da nutrição saudável. O Hai também apoia a economia local efetuando todas as suas compras no comércio da própria comunidade.
Ao longo dos anos, o Hai África se tornou um centro que atende mais de 40 crianças (os nossos “babies”), tem 6 funcionários locais, gera renda e dá oportunidade a 15 mulheres (carinhosamente conhecidas como ‘’mamas’’), financia a educação de 3 professores e a educação contínua de 29 crianças na escola primária.
Se você se interessou pela história do Hai, pode ajudar das seguintes formas:
- Você pode fazer doações em dinheiro e apadrinhar as crianças a partir de R $10. A doação é segura e debitada em crédito mensalmente.
- Você pode fazer doações de roupas, sapatos, móveis e utensílios domésticos ou comprar no bazar do Hai.
- Você pode fazer trabalho voluntário no Hai e ter uma recepção de braços abertos e incentivo a explorar suas habilidades únicas.
- Você pode convidar o Hai para participar do seu evento e compartilhar as histórias de impacto e transformação.
- Você pode se tornar uma organização parceira do Hai e unificar esforços para alcançar objetivos comuns.
E aí, como você pode ajudar a impulsionar a transformação que o Hai África já começou?