Literatura africana: Ondjaki
Texto escrito por Gabrielly Sierra
O poeta, escritor e cineasta Ndalu de Almeida, conhecido como Ondjaki, nasceu e cresceu em 1977 em Luanda, Angola. Cursou Sociologia na Universidade de Coimbra, em Portugal, e é doutor em Estudos Africanos (L’Orientale, Napoli/Itália). Com uma extensa obra traduzida em diversos idiomas, recebeu diversos prêmios como FNLIJ (Brasil, 2010 & 2014); JABUTI juvenil (Brasil, 2010); prémio José Saramago (Portugal, 2013) e o Littérature-Monde (França, 2016) com o livro "Os Transparentes" e na Etiópia foi premiado com o Grinzane for best african writer 2008. Dentre os autores que marcaram sua vida destaca João Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Manoel de Barros e diz que:
“livros são como sonhos: ora sonhamos um sonho e amanhã sonhamos um sonho diferente. O que é preciso é deixar o sonho entrar na nossa vida, que é a mesma coisa que dizer que é preciso deixar os livros invadirem a nossa vida” Ondjaki - trecho de entrevista realizada no I Festival das Culturas da Unilab.
Ondjaki escreve romances e contos passeando por diversos públicos e expandido o seu trabalho também pela literatura infantil, onde caminha pelas memórias e histórias do cenário angolano e desvela uma literatura emancipatória que deseja valorizar a cultura de seu país. Para Camila Knebel Fenner e Demétrio Alves Paz, “Ondjaki apresenta uma literatura de resistência, que luta por espaço, pela valorização da cultura angolana e pela construção da identidade de um país por muito tempo silenciado”.
Conheça, a seguir, 4 livros que fazem parte da literatura infantil e juvenil de Ondjaki. No Brasil, os livros são publicados pela Editora Pallas e neles é mantido o português angolano.
1 - Ombela - Ondjaki e Rachel Caian
Ombela, em umbundu, significa chuva. O idioma é uma das línguas mais faladas da Angola. Nessa história, conhecemos uma jovem deusa, chamada Ombela, em uma jornada de descoberta sobre os seus sentimentos. As lágrimas de Ombela, ao chorar e sorrir, regam a terra e se transformam em chuva. Seu pai surge e explica que a tristeza faz parte da vida, mas não existem apenas lágrimas de tristeza… O texto de Ondjaki e as ilustrações de Rachel Caian aproximam o leitor das tradições de contação de histórias, dos mitos e das lendas que fazem parte da cultura africana.
2 - A bicileta que tinha bigodes - Ondjaki e António Jorge Gonçalves
Um menino sonha quem vencer o prêmio do concurso da Rádio Nacional de Angola e ganhar uma bicicleta colorida. Para isso, precisa escrever uma boa história. Então, resolve buscar ideias na caixa do tio Raul e traçar planos com seus amigos Isaura e JorgeTemCalma, para conseguir o tão almejado prêmio. Nem tudo sai como ele esperava e assim ele mostra ao leitor a beleza do caminho. O processo em busca daquilo que tanto sonha têm um enorme valor. Cheia de metáforas, a história possui várias pontes para refletir. “- Tio Rui, os silêncios afinal servem pra quê? - Para as pessoas estarem umas com as outras”.
3 - Uma escuridão tão bonita - Ondjaki e António Jorge Gonçalves
Quando se conhece o amor, não se sabe muito bem o que fazer. Entre conversas e olhares, acompanhamos o desabrochar do amor em meio a uma escuridão inesperada. Aproveitando a falta de luz na cidade, dois jovens começam a conversar sobre suas vidas e os mais diversos assuntos que se enovelam com elas e ensaiam o seu primeiro beijo. Um livro repleto de metáforas que falam com o leitor de qualquer idade.
4 - A estória do sol e do rinoceronte - Ondjaki e Catalina Vásquez
Que problema haveria de ter um animal tão grande e poderoso quanto um rinoceronte? Nessa história, acompanhamos um que carregava dentro de si uma grande tristeza. Não sabendo mais o que fazer para se livrar dela, pede ao sol, tão imenso e brilhante, que o ajudasse a fazer desaparecer o tal sentimento. O texto de Ondjaki e as ilustrações de Catalina Vásquez dão forma a essa história que faz o leitor perceber o modo como olha para tudo aquilo que acontece. Dias tristes e dias felizes fazem parte do viver e até mesmo um grande e forte rinoceronte pode se sentir tão frágil quanto uma pequena formiguinha.
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FENNER, Camila Knebel; PAZ, Demétrio Alves. A literatura infantil de Ondjaki: uma escrita emancipatória. In: SEMINÁRIO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DA UFFS, 8., 2018, Cerro Largo. Anais [...]. Cerro Largo: UFFS, 2018. Disponível em: https://portaleventos.uffs.edu.br/index.php/SEPE-UFFS/article/view/9527. Acesso em: 21 maio 2024.
QUEIROZ, Camila. Entrevista: Escritor Ondjaki conta sobre sua escrita, influências e relação com a língua portuguesa. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, 2016. Disponível em: https://unilab.edu.br/2016/07/25/entrevista-escritor-ondjaki-conta-sobre-sua-escrita-influencias-e-relacao-com-a-lingua-portuguesa/. Acesso em: 21 maio 2024.